Crédito habitação: Banco de Portugal contra eliminação de comissões Mário Centeno defende as comissões de amortização antecipada como uma medida essencial para a estabilidade dos contratos no setor bancário. 18 dez 2024 min de leitura No atual contexto económico e financeiro, um dos temas que continua a gerar debate entre consumidores, bancos e reguladores é o valor das comissões de amortização antecipada nos contratos de crédito à habitação. Em particular, as comissões associadas a créditos com taxa fixa têm sido alvo de críticas, com muitos a questionarem a sua necessidade. No entanto, a posição do Governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, é clara: estas comissões são fundamentais para garantir a estabilidade dos contratos e a saúde financeira do sistema bancário. Durante a apresentação do mais recente Relatório de Estabilidade Financeira, Mário Centeno defendeu que as comissões de amortização antecipada são uma garantia de segurança para os bancos e para o sistema financeiro em geral. Segundo o Governador, ao garantir a taxa fixa no crédito à habitação, as instituições financeiras têm a certeza de que a rentabilidade do empréstimo será estável ao longo do tempo, sem flutuações devido a mudanças nas taxas de juros do mercado. A amortização antecipada, ou seja, o pagamento de parte ou da totalidade do valor do crédito antes do prazo estabelecido, pode ser uma vantagem para o consumidor. No entanto, segundo Mário Centeno, essa possibilidade representa um risco para o banco, que já terá feito um cálculo dos recursos necessários para cobrir o financiamento acordado no contrato. Quando o cliente decide amortizar o empréstimo antes do previsto, o banco perde a renda futura que teria recebido ao longo do tempo, o que justifica a comissão associada a essa antecipação. Taxa fixa ou taxa variável: as diferenças fundamentais A questão das comissões de amortização antecipada é particularmente relevante no contexto dos créditos à habitação a taxa fixa, que têm vindo a ganhar popularidade em Portugal, especialmente após os períodos de alta volatilidade nos mercados financeiros. A taxa fixa garante ao cliente um valor constante a pagar mensalmente, o que traz segurança e previsibilidade para o orçamento familiar. Contudo, o Governador do Banco de Portugal explicou que, quando o banco concede um crédito à habitação a taxa fixa, assume o compromisso de garantir que o financiamento estará disponível ao longo de toda a duração do contrato. Para tal, as instituições financeiras recorrem a instrumentos financeiros que protejam esse financiamento. Estes instrumentos têm custos associados, e parte desses custos são refletidos nas comissões que o cliente paga ao antecipar o pagamento do crédito. Mário Centeno foi enfático ao afirmar que, para os bancos, não é possível garantir estabilidade no financiamento sem ter um mecanismo que contrabalanceie o risco de amortização antecipada. A comissão de amortização antecipada, para os contratos de taxa fixa, é a forma de garantir que o banco consegue manter a viabilidade financeira do empréstimo e, ao mesmo tempo, proteger o equilíbrio do contrato a longo prazo. Impacto no setor bancário e no consumidor A posição de Mário Centeno também se alinha com as preocupações do setor bancário, representado pela Associação Portuguesa de Bancos (APB). Em parecer enviado ao Parlamento, a APB alertou para o impacto negativo que a eliminação ou limitação das comissões de amortização antecipada poderia ter, não só para os bancos, mas também para os consumidores. Se essas comissões forem limitadas, as entidades bancárias poderiam, em última instância, deixar de oferecer créditos à habitação com taxa fixa ou mista, uma situação que poderia levar a uma diminuição das opções disponíveis para os consumidores. Em resposta a essa possibilidade, Mário Centeno destacou que, se a eliminação das comissões fosse levada a cabo, os bancos teriam de ajustar os seus modelos financeiros. Isso significaria um aumento dos custos para os consumidores, na medida em que os bancos teriam de compensar os prejuízos causados pela amortização antecipada de outras formas, provavelmente com taxas de juros mais elevadas. Além disso, a flexibilidade dos contratos de crédito poderia ser reduzida, limitando as opções dos consumidores na escolha do tipo de financiamento mais adequado às suas necessidades. Cumprimento dos contratos e estabilidade financeira A intervenção de Mário Centeno vai ao encontro de uma visão mais ampla sobre a importância de respeitar os termos contratuais no contexto financeiro. O Governador sublinhou que, em Portugal, um contrato é algo a cumprir rigorosamente. A sua posição defende que é fundamental que os clientes compreendam as implicações de contrair um empréstimo, nomeadamente em relação à possibilidade de amortização antecipada, e que as regras definidas no momento da assinatura do contrato devem ser respeitadas, tanto pelos consumidores quanto pelas instituições financeiras. Num país onde o crédito à habitação é uma das maiores responsabilidades financeiras para as famílias, a garantia de estabilidade nos contratos de crédito é essencial, não só para a proteção dos bancos, mas também para assegurar que os consumidores possam cumprir as suas obrigações sem surpresas desagradáveis. O equilíbrio entre a segurança financeira e as necessidades dos clientes deve ser uma prioridade, e as comissões de amortização antecipada são vistas como um ferramenta necessária para garantir esse equilíbrio. A questão das comissões de amortização antecipada nos créditos à habitação com taxa fixa é um tema de grande relevância para o futuro do mercado imobiliário em Portugal. Embora os consumidores possam considerar estas comissões como uma desvantagem, a sua existência é justificada pela necessidade dos bancos de proteger os contratos e a estabilidade financeira do sistema. O debate sobre a eliminação dessas comissões continua a ser um desafio complexo, que exige uma análise cuidadosa dos impactos para todas as partes envolvidas. FONTE: SUPERCASA Partilhar artigo FacebookXPinterestWhatsAppCopiar link Link copiado