A economia portuguesa registou um excedente externo de 535 milhões de euros em janeiro de 2025, um valor inferior em 397 milhões de euros face ao mesmo período do ano anterior. Esta redução deve-se ao aumento dos défices nas balanças de bens e de rendimento primário, apesar do crescimento do excedente na balança de serviços.

O agravamento do défice da balança de bens, que aumentou 254 milhões de euros, resulta de um crescimento das importações superior ao das exportações. Enquanto as importações registaram um acréscimo de 302 milhões de euros, as exportações subiram apenas 49 milhões de euros, reduzindo a margem positiva do comércio externo.

A balança de rendimento primário também contribuiu para a diminuição do excedente externo, com um agravamento de 223 milhões de euros. Este impacto deveu-se, em grande parte, a uma menor atribuição de fundos da União Europeia sob a forma de subsídios, reduzindo assim os fluxos de receitas externas.

Por outro lado, a balança de serviços registou um desempenho positivo, com um crescimento do excedente de 322 milhões de euros. Este aumento foi impulsionado principalmente pelo setor das viagens e turismo, que contribuiu com mais 108 milhões de euros, e pelos serviços fornecidos por empresas, que também apresentaram um saldo positivo.

A balança financeira apresentou um saldo de 29 milhões de euros, refletindo a capacidade de financiamento da economia portuguesa. Neste contexto, os bancos e as administrações públicas foram os principais responsáveis por este saldo positivo, através do investimento em títulos de dívida estrangeira e do aumento dos depósitos no exterior.

Em contrapartida, o banco central registou a maior redução dos ativos líquidos sobre o exterior, resultado de um aumento dos passivos em depósitos. Estas variações refletem a dinâmica dos fluxos financeiros internacionais e a estratégia das diferentes entidades no contexto do equilíbrio externo do país.

Além dos desafios internos, a economia portuguesa enfrenta também um contexto europeu de menor dinamismo económico. Em março, a confiança dos consumidores na Zona Euro voltou a recuar, depois de uma ligeira recuperação registada em fevereiro. O indicador de confiança caiu 0,9 pontos, fixando-se nos -14,5 pontos, enquanto na União Europeia a queda foi ainda mais expressiva, atingindo -13,9 pontos. Esta tendência reflete uma deterioração do sentimento económico das famílias, impactando diretamente a evolução do consumo privado.

No final de 2024, o PIB da Zona Euro cresceu apenas 0,2%, desacelerando face ao crescimento de 0,4% registado no trimestre anterior. O consumo privado manteve-se como um dos principais motores da economia, mas o seu crescimento abrandou para 0,4%, face aos 0,6% do trimestre anterior. Apesar das melhorias nos rendimentos reais, a confiança dos consumidores manteve-se baixa, levando a taxas de poupança historicamente elevadas, que atingiram os 15,3% no terceiro trimestre de 2024.

O desempenho do excedente externo é um indicador essencial da sustentabilidade económica, refletindo a competitividade das exportações, a atratividade dos serviços e a gestão dos fluxos financeiros. Apesar da redução registada em janeiro, a manutenção de um saldo positivo demonstra a resiliência da economia portuguesa e a sua capacidade de financiamento face ao exterior. No entanto, o abrandamento do consumo na Zona Euro poderá ter repercussões na procura externa por bens e serviços portugueses, tornando essencial uma estratégia de diversificação de mercados e reforço da competitividade nacional.

FONTE : SUPERCASA