Bancos portugueses mantêm taxas altas no crédito ao consumo

Embora as taxas de juro sejam elevadas, a procura por crédito ao consumo continua a crescer, enquanto o crédito à habitação é mais vantajoso.
31 jan 2025 min de leitura
O panorama bancário em Portugal tem vindo a destacar-se pela disparidade entre as taxas de juro cobradas no crédito ao consumo e no crédito à habitação. Enquanto o crédito à habitação é considerado uma das áreas com melhores condições para os consumidores, o crédito ao consumo apresenta taxas bastante mais elevadas, colocando Portugal entre os países da zona euro com juros mais altos nesta modalidade. Este fenómeno tem levado ao aumento do endividamento das famílias, embora a procura pelo crédito ao consumo continue a crescer, contrastando com a situação do crédito à habitação.

Crédito ao consumo

Segundo os dados mais recentes divulgados pelo Banco de Portugal, as taxas de juro no crédito ao consumo continuam a subir. Em outubro de 2024, a taxa média foi de 8,91%, um aumento em relação ao ano anterior, quando se encontrava em 8,54%. Este valor coloca Portugal em uma posição de destaque em termos de custos para quem recorre ao crédito, já que a média da zona euro se encontra em 7,67%. Apenas alguns países da região, como Letónia, Grécia e Eslováquia, apresentam taxas mais elevadas.

Apesar do cenário desfavorável em termos de custos, a procura por crédito ao consumo tem vindo a aumentar. Em outubro de 2024, o crédito ao consumo registou um crescimento de 6,1% em comparação com o ano anterior, o maior aumento desde 2018. Este crescimento resulta numa marca histórica, com o montante total de empréstimos a rondar os 30,1 mil milhões de euros. A tendência de aumento no crédito ao consumo reflete a crescente necessidade das famílias por financiamento para bens de consumo, como carros, móveis ou outros produtos, o que, por sua vez, gera um aumento no endividamento das famílias portuguesas.

Crédito à habitação

Em contraste com o crédito ao consumo, o crédito à habitação apresenta condições bem mais vantajosas para os consumidores. A taxa média de juro para novas operações de crédito à habitação em outubro de 2024 foi de 3,39%, ligeiramente abaixo da média da zona euro, que se situou em 3,5%. Esta posição coloca os bancos portugueses entre os mais competitivos da zona euro no que diz respeito ao crédito à habitação, embora essa vantagem já tenha sido maior em anos anteriores.

O mercado de crédito à habitação em Portugal continua a ser uma opção atrativa para muitas famílias, com as condições de financiamento sendo mais acessíveis do que as de outros países da zona euro, como França, Eslovénia e Itália. No entanto, comparado com a situação de há três anos, as taxas de juro aumentaram significativamente, já que em 2021 a taxa média de juro estava abaixo de 1%.

Este panorama reflete a diferença entre as modalidades de crédito e os riscos associados a cada uma delas. O crédito à habitação, devido à garantia real do imóvel, é considerado de baixo risco para os bancos, o que justifica as taxas mais baixas. Já o crédito ao consumo, sendo não garantido, envolve maiores riscos, o que leva à cobrança de taxas de juro mais elevadas.

A escolha dos bancos: maior interesse no crédito à habitação

A distinção entre as condições de crédito ao consumo e crédito à habitação também pode ser explicada pela tradição comercial dos bancos portugueses. De acordo com António Nogueira Leite, economista e ex-vice-presidente da Caixa Geral de Depósitos, os bancos preferem oferecer crédito à habitação, dado que este tipo de financiamento garante um menor risco e está associado a uma maior estabilidade. Em comparação, o crédito ao consumo envolve mais incertezas, o que faz com que os bancos adotem uma política mais restritiva e cobrem juros mais altos para se protegerem contra o risco de incumprimento.

Os bancos têm uma estratégia comercial clara: fazer crédito à habitação é uma prioridade, pois além de ser um mercado maior, garante uma base sólida de clientes ao longo de muitos anos. No caso do crédito ao consumo, que é mais volátil e de curto prazo, as margens de lucro podem ser menores, e os riscos associados são mais difíceis de controlar.

O endividamento das famílias e as implicações

O aumento do crédito ao consumo tem levado a um crescimento do endividamento das famílias em Portugal, o que levanta preocupações sobre a sustentabilidade desse endividamento no futuro. Embora a procura pelo crédito à habitação continue a ser uma opção mais vantajosa para os consumidores, o crédito ao consumo pode ser uma armadilha financeira caso não seja bem gerido.

A subida do crédito ao consumo não só aumenta a exposição das famílias a taxas de juro mais elevadas, mas também coloca as finanças pessoais sob maior pressão. Em comparação, o crédito à habitação tende a ser uma dívida de longo prazo, com condições mais suaves, embora ainda assim sujeita a variações conforme as flutuações das taxas de juro do mercado.

O sistema bancário português apresenta uma grande dicotomia entre o crédito ao consumo e o crédito à habitação. Enquanto o primeiro continua a ser uma opção mais cara para os consumidores, o segundo oferece taxas mais competitivas, refletindo uma política comercial focada na segurança e estabilidade financeira.

A crescente necessidade de financiamento das famílias, aliada ao aumento das taxas de juro no crédito ao consumo, pode gerar um ciclo de endividamento, que exige uma gestão cuidadosa e estratégica. O crédito à habitação, com condições mais favoráveis, continua a ser uma solução viável para quem deseja comprar casa, mas as famílias devem estar atentas aos riscos de endividamento excessivo, principalmente no crédito ao consumo.

O cenário atual demonstra que, embora as condições de crédito variem consideravelmente, os consumidores devem agir com prudência na hora de contrair dívidas, para garantir a sua estabilidade financeira a longo prazo.

FONTE: SUPERCASA
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